Caso Benício: Justiça avalia manter ou revogar habeas corpus da médica que prescreveu adrenalina na veia do menino
10/12/2025
(Foto: Reprodução) Caso Benício: Pedido de perícia no sistema do hospital é solicitado
O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) analisa se mantém ou revoga o habeas corpus preventivo concedido à médica Juliana Brasil, responsável pela prescrição de adrenalina aplicada na veia do menino Benício Xavier, de 6 anos, morto após complicações em um hospital particular de Manaus.
A decisão será tomada com base em informações prestadas nesta quarta-feira (10) pelo delegado Marcelo Martins, titular do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP), que detalhou o andamento das investigações ao Tribunal de Justiça.
"Fui intimado a prestar informações sobre o andamento do processo e reuni todos os depoimentos e atos. A partir disso, o TJAM vai decidir o mérito do habeas corpus, se mantém a proibição de prisão ou reverte a decisão", disse o delegado.
O g1 procurou o TJAM para saber sobre a avaliação do habeas corpus, mas não obteve resposta até a última atualização da reportagem.
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Marcelo Martins ainda informou que vai solicitar perícia no sistema eletrônico do hospital, usado para registrar prescrições médicas. A defesa alega falhas no sistema, que teriam impresso a dose intravenosa sem que a médica percebesse, quando a prescrição correta seria por via inalatória.
A Polícia Civil trabalha com a linha de que Benício foi vítima de homicídio. O menino recebeu a dose de adrenalina intravenosa para tratar uma laringite e morreu cerca de 14 horas depois, já na UTI.
Segundo as investigações, a médica Juliana Brasil prescreveu a dose errada, e a técnica de enfermagem Raiza Bentes aplicou o medicamento na veia da criança.
Juliana admitiu o erro em um documento enviado à polícia e em conversas com o médico Enryko Queiroz, embora a defesa alegue que a confissão ocorreu no “calor do momento”.
Raiza, por sua vez, afirmou em depoimento que apenas seguiu a prescrição da médica ao aplicar a adrenalina de forma intravenosa e sem diluição. Ela disse ainda que informou a mãe de Benício sobre o procedimento e mostrou a prescrição antes de realizar a aplicação.
As duas respondem ao inquérito em liberdade. Apenas a médica recebeu habeas corpus, que impede sua prisão, enquanto a técnica não teve o mesmo benefício. As decisões foram tomadas por desembargadores diferentes durante o plantão judicial.
ENTENDA: por que a Justiça deu habeas corpus à médica e negou à técnica
Delegado prestou informações ao TJAM sobre o andamento do caso e o habeas corpus da médica.
Rede Amazônica
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O caso
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Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.
A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
Após a reação, a equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco. Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado.
Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.
O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo.
“Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém”, disse o pai.
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que uma médica e uma técnica de enfermagem foram afastadas de suas funções e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
A Polícia Civil informou, em nota, que as investigações sobre a morte da criança estão em andamento para apurar as circunstâncias do caso.
O órgão acrescentou que, no momento, não pode divulgar mais detalhes para não prejudicar os trabalhos.
Infográfico - Caso Benício
Arte g1