Estações de tratamento devolvem água limpa aos igarapés para reduzir impacto ambiental em Manaus
31/10/2025
(Foto: Reprodução) Empresa do Distrito mantém estação de tratamento de efluentes
Em meio ao crescimento urbano e industrial de Manaus, duas iniciativas distintas, uma pública e outra privada, vêm se destacando como exemplos de responsabilidade ambiental e compromisso com a qualidade de vida da população: a Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da Honda, no Distrito Industrial, e a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Raiz, na Zona Sul da capital.
🔍 Estações de Tratamento de Efluentes são instalações responsáveis por tratar resíduos líquidos antes de serem devolvidos ao meio ambiente, garantindo que estejam dentro dos padrões legais e ambientais.
O papel das ETEs é fundamental para tentar mudar a realidade ambiental que assombra a maior metrópole do Norte do País. Segundo o Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, Manaus aparece entre os 20 municípios com os piores índices de saneamento básico do país.
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O acúmulo de lixo nos igarapés que cortam a capital ilustram o problema no dia a dia manauara. Entre janeiro e julho deste ano, mais de 2,4 mil toneladas de resíduos sólidos foram retirados dos cursos d'água em Manaus, segundo a prefeitura.
Diante desse cenário, garantir com que a água utilizada pelas casas e empresas de Manaus retornem aos igarapés limpa, é urgente.
ETE ajuda a transformar o Igarapé do 40
No bairro Raiz, Zona Sul, a Prefeitura de Manaus, em parceria com a concessionária Águas de Manaus e o Governo do Estado, inaugurou a primeira etapa da ETE Raiz. A estação tem capacidade para tratar mais de 230 milhões de litros de esgoto por mês, beneficiando diretamente mais de 50 mil moradores e contribuindo para a recuperação do Igarapé do 40, um dos principais corpos hídricos da capital.
Com 9,6 mil m² de área total, a ETE Raiz será uma das maiores da região Norte, ao lado das estações Educandos e Timbiras. A obra também gerou empregos com mão de obra local e tem previsão de conclusão total até 2027.
“Uma estrutura que representa qualidade de vida. Essa é uma obra que as pessoas não veem, porque está debaixo da terra, mas tem um efeito direto na saúde das famílias, no desenvolvimento humano e na valorização dos nossos bairros", afirmou o governador Wilson Lima durante a inauguração da estação.
Nesta fase inicial, a ETE Raiz irá tratar o esgoto coletado nos bairros Raiz, Petrópolis, Cachoeirinha e São Francisco, todos localizados na zona Sul e que fazem parte das areas de atuação do Prosamim+, programa executado pela Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE).
O doutor em físico-química Sérgio Duvoisin aponta que iniciativas como essa são fundamentais para a preservação da biodiversidade amazônica e para o uso consciente da água, especialmente em uma região onde os recursos naturais são abundantes, mas vulneráveis à degradação.
"Ter uma instituição de tratamento efluentes para os efluentes que eles geram é de extrema importância. A primeira coisa é entregar aquilo que tu recebe. Se tu recebe uma água de boa qualidade, tu tem que entregar, para os igarapés aqui de Manaus, a mesma qualidade que você recebeu", destacou.
Operação será conduzida pela Águas de Manaus
Divulgação
Fábrica da Zona Franca de Manaus adere a iniciativa
Instalada em uma área de quase 2 mil m², a ETE Honda instalada na fábrica da Zona Franca de Manaus é considerada a maior da empresa na América do Sul.
O sistema trata diariamente milhares de metros cúbicos de resíduos líquidos industriais e biológicos, devolvendo ao meio ambiente uma água com 98% de pureza - bem acima dos 70% exigidos pela legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Segundo o supervisor de meio ambiente e controle de energia da Honda, Walter Almeida, a estação garante eficiência no tratamento e ainda permite a reutilização de parte da água nos próprios processos industriais.
"Isso aqui nos garante uma eficiência muito boa para devolver esse efluente à natureza, em forma de água tratada, e coletar parte desse efluente e utilizá-lo dentro da própria fábrica," explicou Walter Almeida, supervisor de meio ambiente e controle de energia
Segundo a empresa, o sistema de tratamento contribui diretamente para a redução do impacto ambiental das operações fabris. Além disso, a há investimento em ações complementares, como o reaproveitamento de resíduos metálicos e a substituição de matérias-primas por alternativas mais sustentáveis.
"Temos as licenças operacionais e nas licenças tem as condicionantes. Essas condicionantes, elas ditam o que nós devemos entregar, de que forma nós devemos entregar e a gente presta contas ao Estado. Desde a implantação da metodologia de tratamento ela funciona com sua capacidade até abaixo e atende a todas as regulamentações", ressalta Walter.
Maria Alencar, de 58 anos, mora próximo ao Distrito Industrial e ficou surpresa ao saber que a água devolvida ao local por uma empresa passava por tratamento e retornava limpa ao meio ambiente. Segundo ela, a iniciativa mostra que é possível conciliar atividade industrial com responsabilidade ambiental.
“A gente sempre pensa que fábrica só polui, mas ver que tem empresa tratando a água e devolvendo limpa é uma surpresa boa. Se todas tivessem essa consciência, nossos igarapés estariam mais preservados”, afirmou.
Estação de tratamento de efluentes
Lucas Macedo/g1 Amazonas
🔍Entenda todo o processo de um ETE
➡️ Gradeamento e desarenação (Pré-tratamento)
O gradeamento utiliza grelhas para reter materiais grandes como plásticos, folhas e galhos, evitando danos aos equipamentos. Já a desarenação separa partículas minerais, como areia e cascalho, por sedimentação em canais específicos. Esses processos físicos são o início do tratamento e garantem maior eficiência nas etapas seguintes da estação de tratamento
➡️ Equalização
A equalização ocorre em tanques que recebem o esgoto bruto com variações de vazão e composição, comuns em sistemas industriais e urbanos. Esses tanques amortecem oscilações e garantem condições mais uniformes para as etapas seguintes. Com isso, a eficiência do tratamento aumenta e os riscos operacionais diminuem
➡️ Coagulação
O processo consiste na adição de coagulantes químicos que desestabilizam cargas elétricas das impurezas, facilitando sua aglomeração. Essas partículas se agrupam em flocos maiores, que podem ser facilmente separados nas etapas seguintes. A técnica melhora a eficiência da clarificação e reduz a carga orgânica do esgoto
➡️ Floculação
Após a coagulação, o esgoto passa por agitação lenta que permite a formação de flocos maiores e mais densos. Esses flocos são compostos por partículas agrupadas que se tornam mais fáceis de separar por sedimentação. O processo melhora a clarificação da água e aumenta a eficiência das etapas seguintes
➡️ Decantação
O processo ocorre em tanques onde os flocos formados na floculação se depositam no fundo por ação da gravidade. Esse lodo é então removido, permitindo que a água clarificada siga para as próximas fases. A técnica contribui para a eficiência e qualidade do tratamento final.
➡️ Neutralização
A neutralização envolve a adição de substâncias químicas, como ácidos ou bases, para equilibrar e corrigir o pH de efluentes muito ácidos ou alcalinos. Essa correção é essencial para evitar danos ao meio ambiente e garantir que o esgoto tratado esteja dentro dos padrões legais. A técnica contribui para a sustentabilidade e proteção dos recursos hídricos
➡️ Oxidação química
O processo utiliza agentes como cloro, ozônio ou peróxido de hidrogênio para transformar substâncias tóxicas em compostos menos nocivos. Essa técnica é eficaz contra contaminantes difíceis de remover por métodos convencionais. A oxidação contribui para a segurança ambiental e melhora a qualidade da água tratada
➡️ Filtração
Após processos como floculação e decantação, o líquido passa por leitos filtrantes compostos por areia, carvão ou outros materiais porosos. Essa barreira física retém impurezas que não foram eliminadas anteriormente. O processo garante maior qualidade da água tratada e segurança ambiental
➡️ Desinfecção
O processo é feito com substâncias como cloro, ozônio ou radiação ultravioleta, que inativam vírus, bactérias e outros agentes causadores de doenças. Essa fase é essencial para garantir que o esgoto tratado não ofereça riscos à saúde pública nem ao meio ambiente. A técnica assegura que o efluente esteja dentro dos padrões legais antes de ser descartado
➡️ Reaproveitamento ou descarte
Quando atinge os padrões de qualidade, o efluente pode ser reutilizado em atividades como irrigação, limpeza urbana ou processos industriais. Caso contrário, é descartado de forma controlada em corpos hídricos, respeitando normas ambientais. A decisão visa proteger o meio ambiente e promover o uso sustentável da água.
Confira fotos das ETEs
Águas após o tratamento
Lucas Macedo/g1 Amazonas
Pureza da água após todo o processo
Lucas Macedo/g1 Amazonas
O processo químico do tratamento
Lucas Macedo/g1 Amazonas
Praça localizada dentro da ETE
Lucas Macedo/g1 Amazonas
ETE raiz visto de cima
Divulgação
Primeira etapa da Estação de Tratamentos Raiz
Divulgação